Mimi
Every word is like an unnecessary stain on silence and nothingness.2 Samuel Beckett
José Luiz Fiorin, renomado professor e linguista brasileiro, especialista em Pragmática, Semiótica e Análise do Discurso, começa seu artigo A noção de texto na
Semiótica, descrevendo um embate histórico entre os adeptos de duas formas diferentes de análise, os adeptos de mecanismos intradiscursivos, e os adeptos de mecanismos interdiscursivos. Os primeiros acusavam os segundos de “serem cegos para os mecanismos de estruturação do texto, não reconhecendo a especificidade linguística do discurso” (FIORIN, 1989, p. 164), enquanto recebiam críticas dos mesmos onde eram tachados de reducionistas alheios a História, tendo uma visão empobrecedora do texto.
Embora a Semiótica francesa preocupe-se em estudar os mecanismos que engendram o texto, postulando que a análise do conteúdo deve ser feita em separado da expressão, Fiorin reforça a ideia de que não precisam haver desconfianças mútuas, “já que (…) as teorias do discurso, ao ressaltar mecanimos intradiscursivos ou interdiscursivos, estão trabalhando com aspectos complementares da textualização e não com ângulos excludentes na abordagem do uso linguístico” (FIORIN, 1989, p. 164). thiago.rge@gmail.com Em entrevista concedida à revista Vogue de dezembro de 1969.
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Los Muertos (Lisandro Alonso, 2004)
Partindo da premissa essencial desse conceito (i.e., de
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que o interdiscursivo consegue abrir novos ângulos de leitura), este artigo pretende analisar a narrativa e a utilização do tempo na obra de um dos mais radicais cineastas do denominado nuevo cinema argentino (ao lado de diretores como Lucrécia Martel e Pablo Trapero), o diretor, montador, roteirista e produtor, Lisandro Alonso, apontando possibilidades para sua recusa comercial.
todas as suas numerosas visões da realidade e da vida inserida nela (MCKEE,