Meu saco
Minha vozinha querida,
Queria tanto estar aí pra te dar um beijo, um abraço e sentir teu cheirinho de vó… Mas os caminhos de nossas vidas me fizeram o favor de me por longe de ti agora, justamente agora quando eu mais queria estar aí. Quem sabe ele está me punindo porque eu fugia da tua casa por causa da verdura e da sopa. Ninguém deve fugir da casa da vó por causa da sopa. Esse foi meu grande erro, eu sei.
Vó, mãe da mãe. Duplo amor. Quanta saudade eu sinto do tempo que não passamos juntos, vó… Dos feijões da quarta que não comi, dos fins-de-semana que não passei contigo. Pelo menos a bolacha do motor ajudou a fazer uma história contigo, né, vó? Ah, tinha também a Tchitchia Morada, aquele suco de uva peruano que eu adorava e que tu fazias pra mim…
Sabe, vó, mesmo longe nunca tive tão perto de ti. Minha saudade faz eu sentir teu cheirinho, faz meus ouvidos ouvirem tua benção todos os dias. E, mais importante, minha vida faz ressoar cada ensinamento cristão do catecismo da igreja de Aparecida. Me lembro de uns sábados à tarde que, mesmo depois de grande, ainda cheguei a freqüentar na casa paroquial, no salão… hoje vejo como cada momento daquele, que às vezes para um adolescente pode parecer chato, ganha um significado especial quando o adolescente vira homem e passa a ver sentidos em coisas outras.
Hoje, vozinha, sou uma pessoa feliz. Minha família é maravilhosa, minha profissão está em plena construção. Que