metodologia
A constituição do tema
Mário Osório Marques
Ir-se à procura de algo diferente, guiado pelo desejo de encontrar o novo, o inusitado, o sequer por nós suspeitado, o original porque descoberta nossa, isso é pesquisar. Colocar o pesquisar sob o signo do desejo é colocá-lo sob o signo da carência e da falta, de uma necessidade não suprida, do imaginário como substituição e sublimação de um objeto por muitos possíveis, mediação que protela a plena posse, e onde se insere a astúcia industriosa, prudente e persistente da razão. Transforma-se o vago desejo em conatus, esforço contido e canalizado para a obtenção de determinado objetivo (cf. Chauí, 1993, p. 19-66), que, por ser determinado, estabelece um campo de investigação, isto é, de atenção distinta e demorada, persistente, a objeto privilegiado do desejo. É condição para a pesquisa uma dúvida precisa e bem determinada, o centramento em um delimitado tema.
Estabelecer um tema de pesquisa é, assim, demarcar um campo específico de desejos e esforços por conhecer, por entender nosso mundo e nele e sobre ele agir de maneira lúcida e conseqüente. Mas o tema não será verdadeiro, não será encarnação determinada e prática do desejo, se não estiver ancorado na estrutura subjetiva, corporal, do desejante. Não pode o tema ser imposição alheia. Deve ele tornar-se paixão, desejo trabalhado, construído pelo próprio pesquisador.
Da experiência antecedente, dos anteriores saberes vistos como insuficientes e limitantes nasce o desejo de conhecer mais e melhor a partir de um foco concentrado de atenções. Não podemos tudo querer ao mesmo tempo. Muito menos podemos de fato querer o que não tem ligação com nossa própria vida, o que nela não se enraíza.
Pesquisar é buscar um centro de incidência, uma concentração, um pólo preciso das muitas variações ou modulações de saberes que se irradiam a partir de um mesmo ponto. Recorda-nos Michel Serres (1993, p. 49) que o kentrôn dos gregos traduz o centro do círculo, o ponto agudo que é também