Metais no Organismo Humano
"Ricardo Reis nasceu no Porto. Educado em colégio de jesuítas, é médico e vive no Brasil desde 1919, pois expatriou-se espontaneamente por ser monárquico. É latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria." Era moreno, mais baixo e mais forte que o Caeiro.
A linguagem de Ricardo Reis é clássica. Usa um vocabulário erudito e, muito apropriadamente, os seus poemas são metrificados e apresentam uma sintaxe rebuscada.
Os poemas de Reis são odes (Poesia própria para canto), poemas líricos de tom alegre e entusiástico, cantados pelos gregos, ao som de cítaras ou flautas, em estrofes regulares e variáveis.
É uma poesia neoclássica, pagã, povoada de alusões mitológicas. Enfim, uma poesia moralista, sentenciosa, contida, sem qualquer traço de espontaneidade. Cultivando preferencialmente a ode, utiliza uma linguagem culta, rebuscada – o hipérbato, inversão da ordem normal dos elementos da frase, é um recurso amplamente usado.
Fernando Pessoa publicou poemas de Ricardo reis – vinte odes – pela primeira vez em 1924, na revista “Athena” por si fundada. Depois, entre 1927 e 1930, oito odes foram publicadas na revista “Presença” de Coimbra. Os restantes poemas e a prosa de Ricardo Reis apenas foram publicados depois da sua morte.
As odes de Reis recorrem sempre aos deuses da mitologia grega. Este paganismo, de carácter erudito, afasta-se da convicção de Alberto Caeiro de que não se deve pensar em Deus. Para Ricardo Reis, os deuses estão acima de tudo e controlam o destino dos homens.
Reis é, afinal, um conformista que pensa que nenhum gesto, nenhum desejo vale a pena, uma vez que a escolha não está ao alcance do homem e tudo está determinado por uma ordem superior e incognoscível. Para quê, então, querer conhecer a verdade que, a existir, apenas aos Deuses pertence? Nada se pode conhecer do universo que nos foi dado e por isso só nos resta aceita-lo com resignação, como o destino. Além disso, o medo do sofrimento paralisa-o