Mestre
ROBSON JORGE DE ARAÚJO
Abril de 2000
Dentre as possíveis semelhanças entre os fatos e acontecimentos históricos em seus mais diversos períodos, nota-se certo paralelismo entre a época atual e os áureos tempos da Grécia clássica. Por volta dos séculos VII-VI a.C., o pensador grego se admirava com o mundo físico e procurava para o mesmo uma explicação reflexiva, um arché, princípio determinador de toda a ordem cósmica. Já no período democrático, foram as lições dos sofistas, fundamentadas no valor estrutural dos belos discursos, que fizeram com que Sócrates se levantasse em defesa da verdade, na tentativa de restaurá-la, assim como o papel da memorização nos caminhos da salvação da alma: era a memória tão importante sob o ponto de vista ascético que, para bem exercitá-la, Sócrates desaconselhava seus discípulos quanto ao uso dos discursos escritos, uma vez que estes vêm a enfraquecê-la.
Sob o aspecto cultural dos tempos atuais, especialmente quando se fala em tecnologia, quase de imediato se pensa na informática e na sofisticação dos computadores, na Internet, verdadeiras fontes da sabedoria contemporânea. Impacto semelhante àquele causado por esses cérebros mecanizados do final do século XX, que levam o homem moderno à admiração e até mesmo a um certo ceticismo por parte dos menos especializados, deve ter conduzido a civilização grega à mais profunda reverência diante das explicações racionais levadas a efeito pelas descobertas filosóficas nas investigações acerca da physis.
Não faltaram, também, os progressos nos campos da política e da linguagem, por decorrência. E, tomando-se conhecimento das advertências de Sócrates a Fedro quanto aos discursos escritos, parecenos ouvi-lo numa advertência contra os possíveis perigos da informática na cultura ocidental contemporânea: "(...) tal coisa tornará os homens esquecidos, pois deixarão de cultivar a memória; confiando apenas nos livros escritos, só se lembrarão de