Mestre
Sempre tive fascínio pelo mar. Quando criança poderia passar horas imaginando os mistérios escondidos no fundo do mar. Fantasiava as profundezes dos oceanos que jamais foram atingidas pelo homem. O mesmo fascínio se aplicava às galáxias. Era como se eu desvalorizasse o que era conhecido por mim, em detrimento do desconhecido. Quando amadureci um pouco mais, recordava as especulações feitas durante a infância e achava tudo tão bobo, não só bobo como em alguns momentos sentia medo do desconhecido. Sobre o conhecido, lembro-me da provocação de Fernando Pessoa por meio de Álvaro de Campos no poema Se te queres matar: “Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido? Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces, para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?”. A provocação de Álvaro de Campos segue a linha de pensamento de Sócrates: “Só sei que nada sei”, mas o que essas provocações significam? Remetem-nos à ideia de que a sabedoria ultrapassa nossos limites e não temos como percebê-la na sua totalidade. O verdadeiro sábio é aquele que se coloca na posição de eterno aprendiz. É uma conscientização que por mais que se busque as respostas das questões que possam vir a surgir, nunca conseguiremos eleger uma resposta correta entre as possíveis respostas. Cada pessoa pode desenvolver uma resposta para cada possível pergunta. O que há de sábio em não saber a resposta? A sabedoria consiste na compreensão de que quanto mais se aprende, mais se compreende de que nada se sabe, pois são infinitas as coisas a serem apreendidas pela percepção do indivíduo. As certezas são relativas e cada indivíduo pode desenvolver um ponto de vista distinto, pois as coisas são mais profundas do que a percepção superficial.
O conhecimento humano começa com o contato do indivíduo com o mundo, portanto as profundezas dos oceanos e as galáxias eram imageticamente fabricadas por mim, embora exteriormente e independente da minha construção, coexistindo com outras imagens. Tais