Mestiçagem na arte contemporânea: conceitos e desdobramentos: icleia borsa cattani
O termo Mestiço embora existente desde a Idade Média , referiu-se sucessivamente a tecidos, grãos mistos, posteriormente a mistura de plantas e animais e finalmente a uniões socialmente desiguais. Foi apenas a partir da colonização das Américas com as uniões entre autóctones e europeus e mais tarde, de africanos com os precedentes, que se consolidou o sentido de mestiço para definir o fruto dessas uniões: no entanto, o caráter pejorativo nasceu não foi apenas por razões raciais, mas pelo status indefinido e inferiorizado desses descendentes, em face do eurocentrismo dos colonizadores.
Existem diferenças significativas nas obras e nas práxis artísticas entre o período considerado como a modernidade na arte ( meados do séc XIX aos anos 1970) e na contemporaneidade.
O que se pode observar é que houve, sobretudo, um questionamento de paradigmas que nortearam a modernidade na arte. Sistematizados por teóricos e artistas desde os anos 1910, esses eram a novidade, a originalidade e a unicidade.
Na contemporaneidade, a partir dos anos 1970-1980, começaram a predominar, no campo artístico, não a proposição propriamente dita de novos paradigmas, mas o questionamento dos modernos.
A partir de 1975 houve o surgimento progressivo de linguagens e formas abandonadas na modernidade, acompanhadas de mistura de elementos que abrem a mestiçagem ou a hibridações. Trata-se de obras múltiplas, “impuras”, que recorreram ao passado, em ruptura com os princípios de pureza, de unicidade e de originalidade modernos.
A unicidade dá lugar às migrações de materiais, técnicas, suportes, imagens de uma obra a outra, gerando poéticas marcadas pela transitoriedade e pela diferença; o único dá lugar, assim, à coexistência de múltiplos sentidos.
Os outros paradigmas modernos são questionados desde então. A ideia do artista enquanto gênero criador – embora seja uma concepção que subsiste para o grande público