Mesa voadora
ver!ssimo
A Mesa Voadora
Estamos no topo da cadeia alimentar dos bichos de sangue quente e somos da categoria dos predadores: comemos de tudo, da baleia ao escargot. Assim o escritor analisa a espécie, nos ajuda a compreender fomes diversas - e alivia culpas, se elas ainda existirem. Sim, Veríssimo é especialista no assunto. Na cozinha só entra para abrir geladeira, mas sabe comer. Delicia-se com bravos minestrones, carnes malpassadas, tortas sofisticadas ou pastéis de beira de estrada. Sorte a nossa, porque depois de comer tanto e tão bem ele ainda escreve, deliciosamente, sobre experiências viscerais. Ou alguém já descreveu melhor do que o Veríssimo aquele encantamento que sentimos, ah sim, quando a gema se desprende da clara e, viscosa, quente, se desmancha sobre os grãos de arroz? Seus textos também podem nos embriagar, de tanto rir, se o assunto for os tintos mais apropriados para aquele jantar de sexta à noite, ou a ressaca do dia seguinte Veríssimo aposta que na sua adolescência as bebedeiras tinham grandeza, e na luta desigual entre o cuba-libre e seu instinto de preservação, o primeiro ganhava sempre. Confira. As memórias gustativas deste escritor só ficam mais saborosas com o tempo. Comer é uma forma extrema de possuir o que queremos - seja o fígado ou a coragem do inimigo, quem sabe a carne da pessoa amada. Tudo no sentido figurado, claro. Afinal civilização é isso: a domesticação dos nossos apetites. Seja no ruidoso churrasco de domingo, no jantarzinho só-nós-dois-e-mais-ninguém, ou na defesa das nossas preferências num disputado buffet, este martírio da vida social moderna. Você sabe do que Veríssimo está falando - é preciso resistir à tentação de botar os camarões no bolso, mas decida-se por uma eficiente estratégia de ataque. Impossível o desprendimento, quando o assunto é comida: nosso passado de canibais nos persegue.
Sumário
Nota do autor O buffet União, gente Com champignon O come e não engorda Cumprimentos ao chef Às