Meninos carvoeiros
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)
— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles. . .
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
—Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados!
( MAGDA, Soares. Português através de textos. S.Paulo. Moderna, 1990. P-146.)
Vocabulário:
Relho (ê) = sm Açoite(chicote) feito de couro torcido.
Aniagem = sm Pano grosseiro de algodão ou linho cru, usado para fazer sacos ou fardos.
Encarapitar = VTD e VP Pôr(-se) no alto, empoleirar(-se), instalando-se comodamente.
Alimária = sf epiceno 1. Animal irracional, bruto; 2. Fig. Pessoa estúpida
Cangalha = sf 1. Triângulo de madeira que se põe no pescoço dos porcos, para que não devastem terras cultivadas; 2. Fig. Opressão, jugo.
Descobrindo o Texto
1. A exclamação “Eh, carvoero!” aparece três vezes no poema, introduzida por um travessão.
a) Quem grita “Eh carvoero!”?
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b) Para que gritam?
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c) Por que o poeta escreve