memorial de formaçao
Minhas recordações têm início no primeiro dia de aula, primeira série: eu sentada na penúltima carteira, na segunda fila, caderninho aberto... Um lápis... Uma borracha... Olhos atentos à porta. A professora entra na sala, diz bom dia. Virou para lousa, escreve algo e pergunta: “quem sabe uma palavra que começa com A?”. Um silêncio percorreu a classe até que eu, com o coração batendo muito forte e apressado, respondi: “aio”. Uma voz dura me corrige imediatamente, me deixando muito envergonhada: “NÃO É AIO, É ALHO”! “NÃO SABE FALAR”.
Pobre professora, ela talvez não soubesse que aquela menininha, que pensou muito, em várias palavras e que escolheu a ‘melhor’ para dizer, era uma criança de fazenda, que vivia cercada de “caipiras”, que não conhecia a norma culta da língua portuguesa e que se esforçou ao máximo para responder corretamente. E, talvez, nem imaginou que sua resposta poderia causar um trauma naquela menina – e causou, porque hoje esta menina tem receio em falar em público por medo de falar errado, muitas vezes dá resposta só no pensamento com receio de estar equivocada.
Contudo, não é somente este fato que ficou marcado nos meus primeiros anos na escola. Muitas coisas boas aconteceram. E agora, pensando nesta fase vivida, consigo voltar ao tempo e enxergar à escola, os meus colegas, as professoras (que vinham da cidade para lecionar ali), a merendeira, as brincadeiras. Consigo sentir novamente o gosto daquela bolachinha com leite, da sopa de fubá, do arroz doce... Consigo me ver tomando banho cedinho, colocando a roupa, calçando o chinelo, pegando a mochila e indo contente para escola... Consigo me ver tentando ensinar minha vó, minha querida vó ‘analfabeta’... Consigo sentir o perfume da professora, a mais querida, que por sinal, se tornou minha madrinha de Crisma, por ter sido tão significativa pra mim, por ter me respeitado como criança, por ter me dado atenção, por ter