“Meio século de debates sobre a relação entre a educação escolar e a produção de desigualdades sociais”
Nos últimos 50 anos, muito se tem discutido no campo educacional brasileiro a respeito da relação entre a educação escolar e a produção de desigualdades sociais. O debate em torno desta questão não pode deixar de levar em consideração as contribuições do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que apresentamos a seguir.
Em meados dos anos de 1960, tomando como referência a sociedade francesa, que vivenciava a expansão educacional com o fim da Segunda Guerra Mundial, Bourdieu alertou-nos para o fato de que a escola não é uma instituição neutra, que prega a igualdade de oportunidades, já que esta expansão não garantiu às massas a mobilidade social desejada com a aquisição dos certificados escolares. A partir daí, Bourdieu passou a defender a tese, conhecida no campo educacional como Teoria da Reprodução, de que a desigualdade social é legitimada e reproduzida pela escola, na medida em que esta corrobora com a manutenção dos privilégios sociais das classes dominantes através de seus mecanismos internos.
Outro aspecto interessante da teoria do sociólogo diz respeito às relações entre família e escola. Bourdieu defende que a trajetória escolar dos indivíduos é ajustada em função de sua posição no espaço social e caracterizada pelos diferentes graus de capital econômico, social e, principalmente, cultural, o correspondente à herança familiar.
Sem desmerecer as contribuições do sociólogo francês, é preciso dizer que a produção de conhecimento dos últimos 10 anos, especialmente na área de Sociologia da Educação, tem constatado que o sucesso e a visão positiva da escolarização não estariam diretamente relacionados às famílias de alto poder econômico, do mesmo modo que o fracasso escolar e a visão negativa da escolarização, não teriam relação direta com as famílias de classes populares. Em outras palavras, o capital cultural das famílias