Meio ambiente de trabalho
JEAN-PIERRE DUPUY
S
evitar uma catástrofe climática maior, deveremos, imperativamente, impedir-nos de extrair do subsolo mais de um terço dos recursos fósseis, petróleo, gás e carvão, que ainda estão nele enterrados. Mas nunca o mercado de energia será capaz de um tal esforço de autolimitação. Os mercados existem apenas para administrar recursos escassos. Ora, os recursos fósseis não estão ainda escassos, eles permanecem fortemente superabundantes. Repito, temos recursos fósseis em quantidade três vezes maior do que aquela que temos o direito de utilizar; daí, o apocalipse climático. O lobby nuclear mundial sabe disso, e se ele age, tanto pública como secretamente, de modo a fazer que as atenções se voltem para a ameaça ao meio ambiente, é porque aí vê a grande chance do nuclear civil. Pergunto se é verdadeiramente essa a escolha que nos resta fazer: o envenenamento do planeta ou uma espécie de ditadura da técnica? E coloco a questão de fundo: as condições que fazem a energia nuclear segura são compatíveis com as regras de base que fundam uma sociedade democrática, transparente e justa? A gestão da catástrofe de Chernobyl nos faz duvidar disso.
E QUISERMOS
Avaliação ou despistamento?
Se for constatado que a opacidade, a dissimulação e a mentira são condições necessárias para garantir uma “imagem de segurança”, então a equação energética ficará sem solução. O que aterroriza mais no caso de Chernobyl é que a presumida competência dos experts não alcance uma qualidade de pensamento à altura dos grandes problemas que ela coloca para a sociedade. A tecnocracia, que acusa facilmente seus adversários de cair no irracional e no obscurantismo, carece da seriedade e daquele discernimento mínimo que temos o direito de esperar de cidadãos que põem em risco a possibilidade mesma de uma vida digna e segura neste planeta. Uma competência técnica que não repensa o que diz e o que deixa fazer, eis o supremo perigo. A avaliação