Medieval
(Hilário Franco Júnior)
O processo de gestação do Feudalismo foi bastante longo, remontando à crise romana do século III, passando pela constituição dós reinos germânicos nos séculos V-VI e pelos problemas do Império Carolíngio no século IX, para finalmente se concluir em fins desse século ou princípios do X. Para podermos acompanhar mais claramente esse processo, examinaremos sucessivamente sete de seus aspectos mais importantes: a ruralização da sociedade, o enrijecimento da hierarquia social, a fragmentação do poder central, o desenvolvimento das relações de dependência pessoal, a privatização da defesa, a clericalização da sociedade, as transformações na mentalidade. O primeiro desses aspectos tinha raízes muito antigas. A civilização romana na sua fase inicial estivera baseada na agricultura, porém, em função das dificuldades que esta apresentava naquele solo pouco favorável, aos poucos o comércio passou a ser o setor mais dinâmico. Estruturalmente ligada a isso estava a política imperialista que tornou o mar Mediterrâneo um lago romano. Contudo, as imensas conquistas territoriais e o conseqüente afluxo de riquezas provocaram profundas alterações, cheias de conseqüências, na sociedade e na economia latinas. Por exemplo, um grande crescimento do número de escravos, o enfraquecimento da camada de pequenos e médios proprietários rurais e a concentração de terras nas mãos de poucos indivíduos. Ora, aquela situação apresentava claras contradições, pois o estoque de mão-de-obra escrava, base da economia, precisava ser constantemente renovado por novas conquistas. O Estado, dominado pelos cidadãos mais ricos, via seus rendimentos decrescerem, porque os poderosos escapavam aos impostos e os pobres não tinham condições de pagá-los. Ademais, era preciso fornecer pão e diversão à plebe urbana — sem propriedades devido à concentração fundiária e sem emprego devido à concorrência do trabalho escravo — para se camuflar o