medicina
O Médico e a Eutanásia por António Gentil Martins
O mais grave é o iniciar do abrir das portas porque elas rapidamente ficam escancaradas: assim sucedeu com a questão do aborto, nomeadamente nos Estados Unidos, onde actualmente cerca de 98 % se praticam apenas por razões ditas de natureza psicológica.
Ao falar de eutanásia a primeira coisa que haverá definir muito claramente são os conceitos. Etimologicamente eutanásia significa morte suave, morte doce ou morte tranquila. No entanto, para o que nos interessa hoje, ela implica necessariamente a intenção expressa de antecipar a morte em relação ao que sucederia pela evolução natural das coisas. Não existindo essa intenção, não existirá eutanásia. É assim que a designação de eutanásia passiva se torna irrelevante e até despropositada, já que a abstenção de uma terapêutica sem esperança, num doente terminal, não pode ser considerada eutanásia. Do mesmo modo, a eutanásia voluntária, mesmo a pedido do doente, não será mais que homicídio a pedido ou ajuda ao suicídio, mas sempre acto ilícito sob ponto de vista moral médica.
Será que algum Ser humano quer ele seja médico ou não, terá o direito de dispor da vida de outros Seres Humanos?
Repudiaríamos ver o médico, hoje olhado e venerado com o respeito que a sua actuação merece, passar a ser encarado com sentimentos de receio e perigo, mal estar ou aversão; passar a pesar sobre ele a suspeição de abusos e erros, de comparticipação em interesses materiais ou de ser vítima de conluios de parentes ávidos, empenhados por isso no desaparecimento do parente inepto mas simultaneamente endinheirado.
O que pensaria um doente da possibilidade de ver reunir-se à sua volta um grupo de homens, em princípio sábios e de bom juízo, mas de cuja conferência saísse talvez uma sentença de morte provocada? Seguramente um dos efeitos de tal possibilidade seria a destruição da verdadeira ligação médico - doente, condição essencial para uma