matheus dantas
Loucos uns pelos outros.
Normalmente eu começaria esse texto assim: Venho por meio desta esclarecer a todos os desinformados... mostraria a ele que diria: nooossa Bárbara que saco, isso ta chato. Ele era assim: direto, não enrolava as palavras nem as pessoas, mas às vezes se enrolava nele mesmo.
Mas como começar a escrever algo desse tipo, logo agora, nesse minuto que tudo que eu queria era dormir e acordar como se nada tivesse acontecido? Então pensei: vou escrever como ele escreveria, com verdade.
Loucos uns pelos outros...era só o que eu pensava olhando para cada um daqueles alunos e professores que vinham me cumprimentar, e pensava também o quanto ele era feliz por viver parte de sua vida ali, bem onde ele queria estar.
“Loucos esses alunos, estudam demais” cochicham as vozes que por se julgarem normais se sentem no direito de interpretar desconhecidos, como se fizessem partes de sua vida e o conhecessem profundamente.
Meu irmão era louco, ria demais e não tinha vergonha de rir alto.
Meu irmão era louco, se emocionava facilmente e não se importava de chorar na frente de desconhecidos.
Meu irmão era louco, colecionava livros e lia cada um como se estivesse tendo orgasmos
Meu irmão era louco, estudava no Dom Barreto e gostava.
E esses amigos e professores são loucos também, incentivavam todos os dias meu irmão a sorrir alto, chorar fácil, ler livros complicados e gostar de tudo isso, e nós, sua família, fomos vítimas disso, fomos vítimas dessas histórias que ele chegava contando na hora do jantar e o fazia sorrir alto. Nós fomos vítimas das lágrimas que ele derramava pela ignorância humana que aprendeu a enxergar graças a esses livros difíceis que ele teimava em colecionar.
Ah... queria ser vítima a vida inteira!! Queria escutar mais uma história que fosse escutar o resumo do ultimo livro lido, a voz dele cantando Let it be enquanto tomava banho pra ir se encontrar com esses loucos.
Let it be agora