MATERIA SOBRE ICEGURT
VEIO, VIU E VAZOU
NUMA HISTÓRIA MEIO CONFUSA, UMA MULTINACIONAL COLOMBIANA DESISTE DOS NEGÓCIOS NO BRASIL E DEIXA NA MÃO MILHARES DE AMBULANTES QUE VENDIAM ICEGURTS EM SEMÁFOROS E PRAÇAS.
OLIVEIRA, DISTRIBUIDOR: “A QUALA TRABALHAVA COM MORADORES DE RUA, TINHA UMA PEGADA SOCIAL. NINGUÉM ENTENDEU QUANDO FOI EMBORA” (FOTO: ALEXANDRE SEVERO)
Ubaldino Pereira está chateado. “Eu vendo 300 iogurtes e tiro R$ 80 de lucro por dia”, diz o ambulante, parado num semáforo da Avenida Giovanni Gronchi, na zona sul de São Paulo. Nos últimos quatro anos, ele foi um dos milhares de brasileiros que vestiram o uniforme azul e rosa da marca Icegurt, em grandes capitais brasileiras. O que parece um negócio pequenininho, na verdade, é a ponta visível no Brasil de uma multinacional colombiana, a Quala Alimentos.
A empresa é uma das maiores anunciantes de TV daquele país, ganhou prêmios do Fórum Econômico Mundial, tem negócios em boa parte da América Latina, fabrica centenas de itens – de sopas a creme dental – e faturou US$ 370 milhões em 2012, segundo a Superintendência de Sociedades da Colômbia (vinculada ao Ministério do Comércio, Indústria e Turismo). Chegou ao Brasil em 2008 e no ano seguinte lançou o único produto que venderia por aqui: os “geladinhos” de iogurte – ou Icegurtes –, que eram oferecidos por R$ 1 em faróis e praças. Ubaldino acha a guloseima um sucesso. “Sempre que tem outros vendedores de sorvetes do meu lado, nenhum bate o Icegurt”, diz. Para os donos da Quala, porém, a operação brasileira não andava assim tão saborosa. A empresa deixa o país no fim do mês, depois de seguidos prejuízos (pelo menos é o que afirmam). “Cheguei a chorar quando me falaram que iam embora”, diz o ambulante.
A multinacional não sabe exatamente quantas pessoas vendiam Icegurt no Brasil. Um diretor estima que sejam mais ou menos 2 mil. A Quala só lida com os distribuidores, que eram 274, concentrados em Minas Gerais e São