Marílias de Diego
Primeira parte:
[O escravo Tomé fica parado próximo a casa com um mato na boca, enquanto Tomás Antônio Gonzaga entra em cena, se aproximando do escravo].
Tomás Antônio Gonzaga: Entregue isso para as senhoritas Seixas.
[Escravo Tomé pega a carta e vai em direção a casa, para entregá-la à Moema e Paraguaçu].
Escravo Tomé: Sinhazinhas, isso é para vocês, um moço pediu para eu entregá-las.
[Tomé entrega a carta a elas, abaixa a cabeça em sinal de subordinação e espera a resposta de suas senhoras. Moema a pega com ar de desentendimento, que depois ao começar a lê-la se transforma em um tom de euforia e contentamento pelas palavras ali escritas, a irmã sem entender, lê a carta e tem a mesma reação].
Paraguaçu: E quem é esse?
Escravo Tomé: Não era daqui não, é um desses que vieram do estrangeiro. Ele devia estar na festa de ontem, que sinhozinho Leal fez no salão de Barnabé. Miguelina me disse que os estrangeiros estavam todos por lá para comemorar o aniversario da cidade. Ele tinha um sotaque de português e usava roupas de senhor. Miguelina acha que ele é o moço que comprou as terras ali ao lado do sinhozinho Manoel.
Moema: Tudo bem Tomé! Agora se retire! Queremos ficar sozinhas. Quando precisarmos de ti avisaremos.
[Tomé se retira].
[Moema abre a carta e as duas começam a ler em uníssono]. “Marília, teus olhos
São réus, e culpados,
Que sofra, e que beije
Os ferros pesados
De injusto Senhor.
Marília escuta um triste Pastor.
Mal vi o teu rosto,
O sangue gelou-se,
A língua prendeu-se,
Tremi, e mudou-se
Das faces a cor.”
Narrador: Mas Alexandre, primo das garotas, e amante dos dotes físicos das jovens, não iria se conformar em perder nenhuma delas para um Zé qualquer.
[Enquanto isso Tomé está indo para fora e volta a trabalhar, mas Alexandre que estava próximo, e viu quando Tomás Gonzaga conversava com o mulato e o entregava a carta, vai ao seu encontro e o prensa, segurando-o no ar com as mãos em sua camisa, contra a parede].