Marinheiro perdido
É preciso começar a perder a memória, mesmo que a das pequenas coisas, para percebermos que é a memória que faz nossa vida. Vida sem memória não é vida [...] Nossa memória é nossa coerência, nossa razão, nosso sentimento, até mesmo nossa ação. Sem ela, somos nada [...] (Só posso esperar i pela amnésia final, a que pode apagar toda uma vida, como fez com a de minha mãe [...])!
Luis Buñuell
Esse trecho comovente e assustador das memórias recém-traduzidas de Buñuel suscita questões fundamentais — clínicas, práticas, existenciais, filosóficas. Que tipo de vida (se tanto), que tipo de mundo, que tipo de eu podem ser preservados em um homem NR
*Depois de ter escrito e publicado esta história, iniciei, juntamente com o dr. Elkhonon Goldberg — aluno de
Luria e responsável pela edição russa original de The neuropsychology of memory —, um estudo neuropsicológico rigoroso e sistemático desse paciente.
O dr. Goldberg apresentou algumas das comprovações preliminares em conferências; esperamos vir a publicar um relato completo no momento oportuno.
Um filme imensamente tocante e extraordinário sobre um paciente com amnésia profunda (Prixoner of consciousness) feito pelo dr. Jonathan Miller foi exibido na Inglaterra em setembro de 1986. Também foi feito um filme (por Hilary Lawson) com um paciente que sofre de prosopagnosia (apresentando diversas semelhanças com o caso do dr. P.). Filmes desse tipo são cruciais para auxiliar a imaginação: ”O que pode ser mostrado não pode ser dito”.
Fim NR
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que perdeu a maior parte de sua memória e, com ela, seu passado e seu ancoradouro no tempo?
Isso me faz pensar imediatamente em um paciente meu para em essas questões se aplicam com precisão: o simpático, inteligente e desmemoriado Jimmie G., que foi internado no início de
1975 em nosso Lar de Idosos, nos arredores de Nova
York, com uma enigmática carta de transferência informando: ”incapaz, demente, confuso e
desorientado”.