marcos lucilia pragmatica Comunicar 1
Maria Lucília Marcos
Universidade Nova de Lisboa
A prática clínica, a investigação científica e a educação podem ser singularmente esclarecidas pela sua abordagem como práticas da comunicação. A comunicação é concerteza a dimensão nuclear do social e o facto de ter acedido a objecto teórico interpelante, ou seja, o facto de a comunicação constituir problema implica uma revisão de alguns dos postulados e perspectivas anteriores.
Regredir relativamente às evidências, problematizando-as e fazendo emergir o que aparentemente, ao nível do senso comum, lá não está é a motivação primeira do trabalho científico. Também relativamente à comunicação, importa proceder a esse trabalho de suspeita sobre o saber suposto.
A dimensão comunicacional acentua a natureza inacabada, aberta, anti-positivista das ciências humanas. Impõe uma abordagem dinâmica preocupada em acompanhar, por um lado, as modificações teóricas e práticas e, por outro lado, o diferimento insolúvel na relação do homem-sujeito com o homemobjecto.
O sentido não se pode identificar com a verdade, ou seja, não é mais possível enun∗
Texto apresentado no I Curso Pós-Graduado sobre “Comunicação na Clínica, na Educação, na Investigação e no Ensino”, da Faculdade de Medicina da
Universidade de Lisboa.
ciar o sentido no singular. O sentido tem sempre um carácter processual, é sempre uma produção dos interlocutores e a verdade resulta sempre de uma interpretação, é sempre uma perspectiva obtida, como dizia Nietzsche, a partir do canto onde nos colocamos. Identificar sentido e verdade é esquecer que existem outros cantos para o olhar donde a visibilidade será necessariamente outra.
É neste labirinto de olhares, de sentidos, de verdades que a pragmática da comunicação se autonomiza como domínio próprio, ele também atravessado por diferentes linhagens teóricas. Não existe um modelo único de pragmática, mas uma pluralidade de abordagens. Dessa pluralidade, retenhamos, por agora, alguns pontos, numa