Mar Lia De Dirceu
Marília, exalta suas qualidades, a saber: beleza, inteligência e riqueza. Também exalta a beleza física de sua amada, ora loira, ora morena. O ambiente campestre serve de cenário para a obra. Como poemas árcades notase a presença do bucolismo, do pastoralismo, a simplicidade formal, o apego aos valores da cultura Grecoromana, além dos temas carpe diem, o lócus amoenus e o fugere urbem que compõem as liras. Lira I Livro Marília de DirceuEu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dáme vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela! Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os Pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado;
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela! Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhe dou, gentil Pastora,
Depois que o teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
[...]
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d. p. 1314. ∙ Segunda parte: a prisão em decorrência da acusação de ser um dos inconfidentes. Nesta parte, o eu lírico é tomado por pessimismo, melancolia e saudade de sua amada. Toda a objetividade característica do arcadismo dá lugar ao subjetismo, revelando um poeta amargurado e