Manual de sociologia juridica
Caminho velozmente em direção ao embarque, o salto de meu sapato emite um tic-tac sem fim, olho ao redor constantemente procurando o que não quero encontrar.
Entrego meu passaporte, minhas mãos tremem. Embarco. Sinto que todos me olham, talvez porque saibam que sou uma fugitiva, não cometi crime algum senão contra mim mesma.
Sentada na poltrona do avião fecho os olhos e relembro o momento exato do fim. Meus sentidos já não pertenciam mais aquele lugar- presa numa ilha de mesmice assistia meu casamento afundar sem forças para resgatá-lo.
Todas as noites eu aguardava ansiosa sua saída para mais uma noite de embriaguez. Para ele sou apenas a esposa, dona do lar, cuja única função é manter sua vida em ordem. Essa noite planejei minuciosamente minha liberdade, junto com uma única carta de adeus eu deixo um mundo para trás- meus filhos- esses espero que me perdoem algum dia.
Através da janela vejo pássaros, ao sair deixei a porta entreaberta, quem sabe por ela entre outra que seja capaz de suportar o que não consegui.
Desembarco- entrego ao taxista o endereço do hotel. Durante o percurso observo maravilhada a nova vida que me aguarda além de um país diferente algo a mais me esperava.
Deitada sobre lençóis brancos sinto o calor que emana de Giovanni adormecido. Olhando seu corpo relaxado e dormente me lembro de sua recepção calorosa- com ele me sinto mulher.
Abaixo de meus pés o chão parece não existir, seria possível que isso acontece algum dia? Hoje percebo que sim. Pego as chaves do carro e saio em disparada para o aeroporto na esperança de que o voo esteja atrasado.
Durante o caminho faço uma analise de quais motivos a levaram a tomar tal decisão, abandonar marido e filhos, abandonar uma vida. Sei que não fui o melhor marido do mundo, deixei muito a desejar, sei também que não posso sobreviver sem ela.
Entro no aeroporto procurando no rosto de todas aquele que me é familiar, tarde demais o voo já partiu e com ele partiram também minhas esperanças,