Magia no cárcere: a possibilidade do encontro
Ana Gabriela Mendes Braga
“As pessoas, os momentos são sempre diferentes para mim e as pessoas deveriam parar um pouco, observar um pouco (...) conhecer e conversar com um homem preso, dialogar sobre qualquer coisa e então a mágica acontece... 1 ”
I. Proler Carcerário e a “escrita de si”
A mágica a que o então preso -escritor Rosieles Ramos Sales se refere é a mágica do encontro, que os muros prisionais e nossas próprias defesas se encarregam de evitar.
Sales enquanto preso em Vitória da Conquista –Bahia participou do projeto Proler
Carcerário 2 sob coordenação da professora Heleusa Câmara, que incentivava que os presos desenvolvessem a leitura e a escrita de si.
A escrita de si é um exercício de autoria, uma oportunidade de releitura dos nossos caminhos (CÂMARA, 2001), a qual no contexto prisional adquire uma importância excepcional, pois além de consistir em uma atividade para ocupar os dias vazios da prisão, faz com que o individuo, a partir do resgate de sua história, comece a se diferenciar dos demais, aumentando a sua auto-estima e a compreensão de si e do mundo que o cerca.
O projeto parte do pressuposto que a escrita de si liberta, à medida que ela nos situa em determinado contexto e nos devolve a nossa história. A partir dela podemos resgatar os acontecimentos de nossa vida, redimensioná-los e ressignificá–los, elucidando os processos que nos constituíram enquanto sujeito s, de forma de apurar a nossa compreensão do presente e vislumbrar caminhos futuros.
O passado, presente e futuro são articulados em uma mesma trama. Nesse sentido, a etimologia da palavra trama é muito significativa: do latim fio que vai de través, ao mesmo tempo representativa de uma linearidade (fio) e de uma confluência (través: que se une,
Artigo Publicado originalmente no Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, ano 14, n. 171, fev/2007, p.11/12.
Pós-graduanda em Direito Penal pela