Mae coruja
O escritor, poeta e fabulista francês La Fontaine (1621-1695) deixou uma obra literária que inclui contos, novelas românticas e peças teatrais, além de versos místicos, poemas soltos e fábulas. Apesar de grande parte dos seus 240 apólogos serem baseados nos trabalhos de Esopo, Fedro e Babrio, ou em lendas francesas e orientais, ainda assim esses trabalhos são verdadeiras obras-primas que exerceram grande influência na cultura francesa até hoje.
La Fontaine humanizou os animais caracterizando-os com os costumes da sociedade do seu tempo, refletindo neles suas observações da natureza. Como na fábula “A águia e a coruja” , em que as duas aves decidem firmar entre elas um acordo de paz e não-agressão, no qual a águia promete não devorar os filhos da outra pactuante. Mas para poder cumprir fielmente o prometido ela então pede à coruja que lhe forneça uma descrição dos seus filhos, e esta esclarece:
“Vai ser muito fácil reconhecê-los. Basta você prestar atenção na sua beleza, porque eles são os filhotes mais encantadores, mais elegantes e mais sedutores de todos os bichos de pena que possam existir na face da Terra. Por isso, não há como errar!”.
No dia seguinte, durante o vôo em que cuidava de encontrar o seu almoço, a águia avistou entre as ramagens da árvore mais alta daquela área que examinava, um ninho cheio de filhotes horrorosos de um pássaro que ela não identificou. E aí a caçadora não hesitou um segundo. Voou como uma flecha em direção ao ninho e fartou-se alegremente com a refeição que o acaso havia colocado à sua disposição. Pouco tempo depois, ao tomar conhecimento da desgraça que havia acontecido, a desconsolada coruja foi reclamar com a águia, e esta respondeu que a culpa não era dela, mas sim da mãe que não soubera explicar corretamente a verdadeira aparência dos seus filhos.
Assim é a vida, e por isso a expressão “mãe coruja” tornou-se símbolo de uma situação que retrata com fidelidade