Lírico
A essência lírica
A essência lírica se manifesta nos fenômenos estilísticos próprios. Quando a obra apresenta predomínio desses traços sobre os demais, se situa no ramo da Lírica. Assim se pronuncia Rosenfeld:
Pertencerá à Lírica todo poema de extensão menor, na medida em que nele não se cristalizarem personagens nítidos e em que, ao contrário, uma voz central — quase sempre um “Eu” — nele exprimir seu próprio estado de alma. *
De fato, no poema lírico há sempre um eu que se expressa, advindo daí o subjetivismo atribuído a este tipo de composição. Não devemos, entretanto, confundir o eu lírico com o eu autobiográfico, já que o fato literário possui um universo fictício, onde os elementos da realidade concreta entram em tensão com o imaginário, para criar uma nova Realidade, atrás da qual o autor desaparece. Portanto, o apregoado "subjetivismo" lírico independe do eu biográfico.
É indiscutível a afetividade e a emotividade do clima lírico, sempre ligado ao íntimo e ao sentimento, tornando fluida e inconsistente a relação entre o sujeito e o objeto, isto é, entre o eu e o mundo. A emoção e o sentimento impedem a configuração mais nítida das coisas e dos seres que não se fixam, mas fluem sem contornos definidos na torrente poética. Quanto mais lírico o poema, menor será a distância entre o eu e o mundo, que se fundem e confundem. Quando aparecem descrições, análises, diálogos ou reflexões no poema, instaura-se um distanciamento entre o sujeito e o objeto e o clima lírico desvanece com a acentuação dos traços épicos ou dramáticos.
A atitude fundamental lírica é o não distanciamento, a fusão do sujeito e do objeto, pois o estado anímico envolve tudo, mundo interior e exterior, passado, presente e futuro. Por isso Staiger denomina recordação a essência lírica, levando em conta a etimologia da palavra, do latim cor- cordis. Recordação quer dizer “de novo