Luís de Camões
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co'o tormento,
Para que seus enganos não dissesse
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades! Quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,
Verdades puras são e não defeitos;
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.
Luís de Camões
Análise formal
Soneto-2 quadras e 2 tercetos
Esquema rimático:
Enquanto quis Fortuna que tivesse A
Esperança de algum contentamento, B
O gosto de um suave pensamento B
Me fez que seus efeitos escrevesse. A
Porém, temendo Amor que aviso desse A
Minha escritura a algum juízo isento,B
Escureceu-me o engenho co'o tormento, B
Para que seus enganos não dissesse B
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos C
A diversas vontades! Quando lerdes D
Num breve livro casos tão diversos, E
Verdades puras são e não defeitos; C
E sabei que, segundo o amor tiverdes, D
Tereis o entendimento de meus versos. E
Quadras- rima Emparelhada e interpolada
Tercetos-rima cruzada
Métrica-versos dicassilábicos (medida nova)
Escansão
Em / quan / to / quis / for / tu / na / que / ti / vê /sse
Es / pe / ran / ça / de al / gum / com / tem /ta / men / to
Análise do Conteúdo
1. Assunto: Enquanto o destino (Fortuna) permitiu que alimentasse a esperança de alguma felicidade, o poeta dedicou-se a escrever os efeitos da mesma, naturalmente em versos amorosos. Porém, o Amor, temendo que seus enganos fossem divulgados, secou-lhe a inspiração. Assim, aqueles a quem o Amor sujeita às suas insconstâncias, mesmo que, em tais versos, leiam casos tão diferentes (quiçá contraditórios), deverão considerá-los verdades puras, e não o contrário, sendo que as compreenderão tanto melhor, quanto mais larga for a sua experiência amorosa.
2.