Lusofonia
Vemos um monte de destroços, múltiplas casas completamente desfeitas, vestígios de roupa e um outro objecto milagrosamente intacto. Mas acima de tudo, o pó já acalmou. Um homem faz a saudação nazi à frente das ruinas.
A guerra tinha finalmente chegado ao fim. Berlim fora tomada pelas tropas aliadas, que agora passeavam impávidas e incrédulas, por entre as ruínas de uma cidade totalmente destruída, caos e desordem eram as palavras de ordem, para classificar aquele cenário macabro misturado com cheiro nauseabundo e intenso de sangue e de morte.
As tropas aliadas vagueavam por entre os cadáveres que jaziam por toda a parte, por vezes, revirando-os como se procurassem alguma coisa. As caras dos soldados pareciam mortos vivos, indiferentes à dor e à morte. Parecia que aquela guerra já durava uma eternidade.
Subitamente, os soldados num movimento repentino e brusco levantam as metralhadoras. No entanto, não se ouve nenhum disparo, as armas regressam ao seu estado inicial, vêem-se duas crianças, supostamente alemãs, a correr naquela paisagem sinistra. As crianças fugiam de nós que mais parecíamos fantasmas deambulantes, preparados para apagar o ultimo sopro de vida do exército inimigo.
Eu estava exausto, aquelas crianças transportavam-me para a minha infância, para uma vida na aldeia onde nascera. Que saudades do campo, de passear, livre de preocupações, saudades daquela paz vivida, nos primeiros anos de vida na casa dos avós.
Neste momento, se pudesse olhar o espelho olharia para um homem rude e implacável em que me transformara, ou terá sido a vida que se encarregara disso? Certamente que sim! Não somos mais que o produto da sociedade em que vivemos, não fosse uma adolescência conturbada e todo um clima vivido em constante medo, provocado pela adição alcoólica do meu padrasto, que se insurgia muitas vezes contra a minha mãe, possivelmente não estaria aqui, não me tinha alistado, não me tinha transformado numa autêntica máquina de guerra, era como se