Lusiadas
O capítulo XIX é dedicado à saga heroica do transporte de uma pedra de Pêro Pinheiro para Mafra, num percurso de cerca de 15 quilómetros. Essa pedra destinava-se à varanda situada sobre o pórtico da igreja e da qual o rei abençoou o povo no dia da inauguração da basílica.
É neste capítulo que o narrador faz sobressair o povo e nele elege os seus heróis, os construtores da História que sempre ficavam no anonimato. Trata-se de uma epopeia porque o herói é o povo, humilhado, sacrificado que aqui alcança uma dimensão trágica e se eleva aos nossos olhos, na sua força e humanidade, superando, de longe, as outras duas classes: o clero e a nobreza. Aqui se destaca a força, o suor, a sacrifício e até a morte dos homens que, pela sobrevivência, trabalham sem descanso para tornar possível o cumprimento da promessa do rei. Os heróis não são os belos e os formosos, são os homens sujos, esfarrapados, muitos deles defeituosos, “ um cortejo de lázaros e quasimodos que está saindo da vila de Mafra” como afirma o próprio narrador. Saramago tenta, pois, repor a verdade histórica; foram estes os verdadeiros heróis.
“ São a força do trabalho que constrói o país mas que raramente sai do anonimato.” (revista "Única", Expresso, 1 de maio de 2009) O autor presta uma homenagem a esta gente anónima com o objetivo de a tornar imortal, “já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais.
A história de Manuel Milho
Encaixada na Epopeia da Pedra, surge uma história contada por Manuel Milho, um dos trabalhadores do convento, em episódios quando, à noite, os homens repousam. A sua história dizia que uma rainha vivia com o rei e os filhos no palácio, porém, a rainha, ao contrário do rei, não sabia se gostava de ser rainha, pois nunca tinha sido outra coisa para poder comparar.
Um dia, foi ter com um ermitão que vivia sozinho numa cova e