lUIS xiv
Foi assim, como no singelo quadro pintado pelo biógrafo Jehans de Joinville, que a Cristandade medieval concebeu a figura emblemática do rei Luís IX da França. Um monarca que concretizou em si todo o ideário do que seria um soberano perfeito, de tão ilibada conduta que ainda em vida despertou, em meio a muitos, a certeza de que o Céu seria sua justa paga.
Cristão piedoso. Cavaleiro valente. Homem viril. Rei justo. Cruzado. Santo. Qualidades encontradas naquele que se tornou, no imaginário medieval, o tão procurado modelo do fiel servo de Deus. Não que tenha sido o único monarca a se tornar santo, afinal a Idade Média produziu vários outros. A devoção a santos foi característica, principalmente, no período entre os séculos XII e XIII que, com o surgimento das corporações de ofício e seus padroeiros, aumentou a demanda por canonizações caseiras. O que diferenciou São Luís é que o mito ao redor de sua pessoa começou a ser construído ainda durante a vigência do seu reinado, continuou após sua morte e se cristalizou com sua canonização.
Se houveram, nas dinastias seguintes de reis franceses (os "reis taumaturgos"), aqueles que podiam, com a simples imposição das mãos curar a alporca (escrófulas)(1) como Carlos V, ou aqueles de quem a própria sociedade emanava, como Luís XIV, o rei Sol, ou ainda a idéia de "reis imortais" que se perpetuavam na conservação de suas relíquias, todos estes aspectos da realeza francesa têm parte de sua justificativa na santidade de Luíz IX.
O mito cristalino de um "Santo Rei" atravessou os períodos conhecidos como Idade Média Central e Baixa Idade Média, e invadiu a Idade Moderna,