Lugar algum
Eu quero andar pelos rios que nem um peixe dos mais vagabundos, chutar uns portos e cantar umas músicas em pedaços e esquecer da minha vida de ontem. Tudo de bom e de ruim. Eu quero ir embora e deixar todas as fotos e lembranças da minha vida que vai ser vida passada e começar tudo de novo em um lugar onde só me encontre quem eu permitir, onde vou aplicar a sabedoria de todas as merdas que eu fiz para nunca mais repetir. E provavelmente fazer outras.
Todo dia eu perco a esperança de acreditar, todo dia ela brota de novo como um fungo, uma doença, uma infiltração dentro de mim. Todo dia ela nasce e morre, todo dia, sempre igual, como verdadeira praga e eu não consigo me livrar dela. Maldita esperança filha-duma-puta.
Vivo paralelo a mim mesmo, me remoendo com um baseado do lado numa casa destruída, desmontada, triste, as paredes brancas, e eu querendo ir embora e a outra metade dizendo fica, fica, as coisas podem dar certo, essa ri e se diverte, ah como a vida dela é legal. Tudo dando errado, mas parecendo que está certo. Não agüento mais ficar no meio do ringue. É uma repetição, é o ninguém em lugar nenhum de antes, é todo mundo em todos os lugares e eu aqui e agora em um posto onde não quero estar. Mas estou.
Estou preso, mas posso ir embora quando quiser. Quero morar em um barco na imensidão da Amazônia, longe, longe, feliz, longe e novo, longe e renovado, porque não adianta continuar aqui no mesmo chão que me dá os mesmos frutos. E no fim ainda ouço “você é possesso, doido, surtado”. Sempre alguém me diz isso e eu sangro mais e concordo. Só que eu nunca