Loco locura
Davis Moreira Alvim1
Resumo: É possível encontrar resistências no pensamento de Michel Foucault? Em meio à diversidade de suas ideias, teria ele nos deixado pistas para pensar o ato de resistir? Ao direcionar sua produção intelectual para os dispositivos de poder, ao invocar a figura do “intelectual específico” e, ainda, nos anos finais de sua vida, voltando-se para a constituição das subjetividades, Foucault nos provê formas singulares de conceber e operar resistências. Neste artigo, exploraremos duas direções das resistências no pensamento do filósofo. Em uma delas, as resistências são coextensivas ao campo do poder, guardando relação com o papel específico do intelectual e com a Filosofia. Em segundo lugar, indicamos que as resistências são pontos de partida e apoios fundamentais para as questões que Foucault enfrenta em seus trabalhos, tornando-se parte essencial de seu próprio modo de pesquisa.
Palavras-chave: Foucault – resistências – poder.
A inquietação em relação às resistências percorre o pensamento de Foucault como o fio de Ariadne. Funciona como um novelo que, à medida que se desembaraça, toma lentamente a forma de uma linha. Sua função, contudo, não é indicar a saída, pois mais importante que escapar do labirinto é desfazer o carretel. E Foucault só o desfaz para refazer, para suturar a linha à pele e inventar corpos insubordinados. Trata-se de uma linha que, por um lado, reencontra a ordem dos saberes para contaminá-la e, por outro, torna-se a própria condição de sua elaboração. Foucault, mais do que analisar resistências; ele as inventa, fazendo do seu trabalho intelectual uma forma de resistir e transformando as resistências em parte de sua filosofia.
Um dos primeiros movimentos resistentes do pensamento de Foucault consiste em fazer com que os extratos do saber se voltem contra os poderes. Em conhecida conversa com o filósofo e amigo Gilles Deleuze, ele explica como compreende o papel