Lixo: o problema emblemático do século xxi
Valter Machado da Fonseca∗
Há poucos meses atrás, o Brasil foi surpreendido com containers de lixo vindos da Europa e descarregados em nossos portos. É um acontecimento constrangedor, porém emblemático. O fato serviu, como uma luva, para fazer suscitar e revitalizar os debates e as discussões acerca da superprodução de efluentes domésticos e industriais, além de trazer o questionamento sobre o lugar dos países “em desenvolvimento” [ou subdesenvolvidos] diante dos olhos da denominada “sociedade civilizada” ou ocidental. Na verdade, as grandes conferências internacionais que têm “brincado” de debater os grandes e graves problemas socioambientais que tanto assolam e assustam a humanidade, não apontam nenhuma solução séria para a superprodução de efluentes e do lugar que ocupam os países pobres nestes debates. Eu insisto em ligar a produção de efluentes ao papel desempenhado pelas nações pobres, porque acredito que são questões interdependentes e interligadas. Na verdade, os países pobres sempre se utilizaram e ainda se utilizam do rejeito, da sucata originada da tecnologia em desuso, ultrapassada e já abandonada pelas principais potências capitalistas industrializadas em nível mundial, em especial pelas nações europeias e norte-americanas. Essas potências industriais enxergam os países pobres como locais propícios para depositarem o rejeito de sua tecnologia, juntamente com seus efluentes domésticos e industriais. E, pasmem! Enxergam-nos, inclusive, como depósito de seus resíduos nucleares. Eis porque a questão dos containers europeus foi emblemática. Por outro lado, ao analisarmos a sociedade do consumo, que para a parcela majoritária dos cientistas é igual à “sociedade do conhecimento”, podemos verificar uma série de conflitos e contradições que envolvem o discurso da superprodução de mercadorias, que justificam o ponto nevrálgico, o epicentro do capitalismo: a mais valia [o lucro]. Hoje, virou modismo os discursos