Livro Notre Dame de Paris - Victor Hugo
Obra de transição, Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo, está dividida entre o libelo e a celebração (Este texto, brilhantemente editado pelos talentosos e competentes jornalistas do Diário Catarinense, está na edição de hoje, sábado, no caderno de Cultura do DC. O Cultura é editado por Dorva Rezende. Agradeço também a intevenção certeira de Tatiana Beltrão, que me esclareceu sobre a necessidade de tornar mais ampla a recepção a este trabalho, originalmente apresentado na cadeira da professora Teresa Aline, da História da USP).
Por Nei Duclós
Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo, é um livro com o porte de um monumento. Como a igreja que o inspira, é uma obra de transição, exibindo a majestade de um clássico e a decadência do folhetim. Suas personagens expressam a diversidade e se identificam com cada um dos elementos da sua estrutura múltipla e complexa: o padre santo e sábio transformado em vilão ao longo da narrativa e que abriga e alimenta, sem saber, a figura que sintetiza sua própria decadência; o poeta dividido entre a cultura vazia do poder e a presença viva do povo nas ruas; a dançarina que encarna a beleza e a graça do movimento em confronto com uma espiritualidade rígida fundada no medo. Assim, a trama que enreda o leitor revela a solidez acumulada pela História em queda livre para o abismo.
No capítulo II do Livro VI (Ceci tuera cela - Isto matará aquilo, da edição completa da Gallimard, 1996), Victor Hugo explica como a revolução de Gutemberg esvaziou e aniquilou a importância das obras da arte e da arquitetura antigas. Estas eram os livros da humanidade antes que a palavra impressa tornasse a herança das gerações em algo indestrutível, exatamente por ser um instrumento simples, leve e infinito. Os novos monumentos deixaram de ser os templos, as igrejas e as pirâmides, mas as grandes obras literárias. É nesse enfoque que Notre-Dame foi escrito, o de tornar-se uma edificação não ameaçada pela ruína.
Por ser uma