Literatura
Diante da angústia geográfica, o escritor português opta pela fuga ou pelo apego à terra, matriz de todas as inquietudes e confidente de todas as dores, centro de inspiração e nutridora de sonhos e esperanças. A fuga dá-se para o mar, o desconhecido, fonte de riqueza algumas vezes, de males incríveis e de emoção quase sempre; ou, transcendendo a estreiteza do solo físico, para o plano metafísico, à procura de visualizar numa dimensão universal e perene a inquietação particular e egocêntrica.
Assim, a Literatura Portuguesa oscila entre posições extremas, com certeza porque uma compensa a outra. Ao lirismo de raiz, por vezes carregado de pieguice e morbidez, corresponde um sentimento hipercrítico, exagerado, pronto a agredir, a ofender, a mostrar no "outro" a chaga ou a fraqueza. A sátira, não raro levando ao desbocamento e ao destempero pessoal, dialoga com o culto fetichista da sensação, do sentimento, exacerbado por atitudes de confessionalismo adolescente. Uma atitude esconde a outra, a tal ponto que na base íntimo de todo satírico ou erótico se percebe logo o sentimental, o hipersensível, que defende suas tibiezas com o verniz do procedimento contrário. E vice-versa.
Vem daí que seja uma literatura rica de poetas: aquela ambivalência constitui o suporte do "fingimento