Literatura
Há algum tempo me perguntei como começaria estas memórias póstumas. Não sabia se começava pelo fim, ou pelo meio. Eu prefiro começar pelo final, ou seja, pelo lado triste, para depois voltarmos no tempo, e aí sim, falar de minha felicidade - na época em que eu e Bentinho, como dizia D.Glória, éramos duas criançolas. Não sou como meu marido Bento Santiago, que escreveu o livro dele no intuito de ligar as duas pontas da vida, tentando restaurar a adolescência. Acho isso uma bobagem, porque seria impossível alguém na idade dele ficar tentando, através de livros, restaurar a vida; o que está feito não volta mais. Eu, no entanto, não perdi meu tempo com estas baboseiras, aproveitei minha vida o máximo que pude ao lado dele. Mas o que me deixava irritada era o ciúme exagerado que sentia de mim. Nunca dei motivos para ele ter essas crises de loucura. O que aconteceu foram mal entendidos. É por isso que ele morreu e até hoje não sabe se eu de fato o traí ou não? Até mesmo você leitor, que já leu o livro dele, deve ter tido a mesma dúvida. A partir destas memórias póstumas você, com certeza, não terá mais dúvida e entenderá o que de fato aconteceu. Acho melhor começar a história, passemos ao