Literatura portuguesa
Pede o desejo, dama, que vos veja;
Não entende o que pede, está enganado;
É este amor tão fino e delgado,
Que quem o tem não sabe o que deseja.
Não há cousa a qual natural seja
Que não queira perpértuo o seu estado;
Não quer, logo, o desejo o desejado,
Porque não falte nunca onde sobeja.
Mas este puro afeto em mi se dana;
Que, como a grave pedra tem por arte
O centro desejar da natureza,
Assi o pensamento(pola parte
Que vai tomar de mim, terrestre, humana)
Foi, senhora, pedir esta baixeza.
Nos versos PEDE O DESEJO, DAMA QUE VOS VEJA;/ NÃO ENTENDE O QUE PEDE, ESTÁ ENGANADA nos diz sobre qual assunto o poeta irá tratar ao longo do texto: ele é impelido, pelo desejo, a ter com sua amada o que seria um encontro carnal, como indica a forma verbal VEJA.
Entretanto, pela razão, o poeta repele essa sensação, afirmando estar o desejo enganado e não saber de fato o que pede. A partir deste verso, o poemA irá se revelar uma luta entre a emoção e a razão do poeta. Fica clara a disputa entre o seu desejo sexual e a então ameacada pureza do seu amor. Na primeira estrofe, o poeta fala sobre o seu desejo de ver a dama, mas, segundo supostamente o código de honrA da época, acusa o seu desejo de estar enganado.E o que faz esse desejo enganado é a delicadeza desse amor( É este amor tão fino e delgado/Que quem o tem não sabe o que deseja) Este não saber o que deseja não se refere ao fato de se desejat um encontro carnal, mas o de pensar não estar certo de ter tal encontro quando se trata de um amor tão fino e delgado. O termo quem no verso 3, não falaria do poeta em si,mas de um sujeito indeterminado.Resumindo: qualquer um que tenha um amor fino e delgado pode supor não poder macular este amor com um ato carnal, e aí se consuma o engano do qual Camões se refere.
No ultimo quarteto, podemos dizer que se discute a virgindade da dama.A virgindade aqui é tão natural que assim deve-se manter perpétuamente. Podemos dar outro sentido a posição destes versos: