Literatura infantil, mitos
Introdução:
“Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações.”
(O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry)
Já dizia C.S. Lewis que há três maneiras de escrever para crianças, sendo duas boas e uma, geralmente, ruim. Veremos que seu contemporâneo francês, Saint-Exupéry, fez muito bom uso da melhor maneira, pois sabia que adultos não compreenderão crianças se pensarem como “pessoas grandes”. Antes de analisarmos um pouco duas obras literárias dos autores citados acima, falaremos sobre os três modos de produzir textos para o público infantil analisadas por Lewis e o modo como Saint-Exupéry escrevia para aquele, dando, assim, introdução à proposta do artigo. Lewis (As Crônicas de Nárnia, volume único, pág. 741, 2009) diz que escrever pensando no que as crianças querem ler é equivocado, é a maneira ruim de escrever para crianças, pois não se pode pensar só em “dar ao público o que ele quer”. A segunda maneira é parecida com a descrita acima, porém, melhor, pois o livro nasce de uma história contada de viva voz a uma criança determinada e nesse caso haveria como um acordo entre o autor e o ouvinte, não uma história totalmente calculada, mecanizada como na primeira maneira. O terceiro modo é o preferido e usado pelo escritor. Esse, pelas próprias palavras de Lewis (ibid), “consiste em escrever uma história para crianças porque é a melhor forma artística de expressar algo que você quer dizer”. Ou seja, escreve-se para crianças levando em consideração que literatura infantil¹ também é arte e não só instrumento pedagógico, um pensamento sobre o qual falaremos mais adiante. ¹Dizemos literatura infantil referindo-nos às produções não direcionadas a um público adulto, independentemente da superespecialização