lira dos vinte anos
No prefácio da primeira parte, o autor avisa: “É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço. // Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna que agitava um sonho, notas que o vento levou – como isso dou a lume essas harmonias”. A poesia aparece aqui como expressão de um estado de espírito marcado pela tristeza e pela melancolia. Ela funciona como um registro de vida, daí sua espontaneidade – sugestão de que não teria passado pelo crivo da razão, originando-se diretamente do coração e da alma do poeta. O anseio de algo que acabou por não se realizar, graças à morte prematura do autor, está prenunciado na referência ao “sonho”.
“Lembrança de morrer” é, significativamente, o texto que encerra essa primeira parte. Poema emblemático de toda a poesia ultrarromântica, trata-se de uma verdadeira súmula temática da estética: referências à morte (“Quando em meu peito rebentar-se a fibra, / Que o espírito enlaça à dor vivente”), o desprezo pela vida (“Eu deixo a vida como deixa o tédio / Do deserto o poento caminheiro”), a saudade materna (“De ti, ó minha mãe! pobre coitada / Que por minha tristeza te definhas!”) e a figura feminina, virginal, veículo de um amor platônico (“É pela virgem que sonhei... que nunca / Aos lábios me encostou a face linda!”).
Já o prefácio da segunda parte avisa o leitor sobre o que esperar dela: “[O poeta] Tem nervos, tem fibra e tem artérias – isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que quiserem, sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer, muito prosaicos, não há poesia”. De