Linguistica que é isto prefacio 1
Todos, só porque falam, creem poder falar da língua também. Goethe, Arte e antiguidade A língua é uma razão humana que tem suas razões e que o homem não conhece. Lévi-Strauss, O pensamento selvagem
No primeiro semestre de 2011, um grande debate sobre o ensino de português teve lugar na imprensa brasileira. O pretexto foi um capítulo sobre modalidade escrita e oral de linguagem e sobre variação linguística de um livro de Heloísa Ramos, intitulado Por uma vida melhor, destinado à Educação de Jovens e Adultos. A discussão do tema foi muito pobre, pois, fundamentalmente, como o livro foi distribuído pelo mEc, acusou-se o ministério de incentivar o ensino do português errado a fim de manter a população na ignorância, de estimular o “anarquismo”, de destruir a língua portuguesa. No curso da polêmica, foram feitas afirmações como “A Linguística aceita tudo, para ela não há erro, tudo é válido”. Uma matéria da revista Veja, de 23 de maio de 2011, assinada por Renata Betti e Roberta de Abreu e Lima, para desqualificar a tese de que o aluno tem que aprender que as línguas variam, usa as seguintes expressões: “tese absurda”, “falsos intelectuais”, “desserviço aos jovens”, “motor ideológico dos obscurantistas”, “desvarios dos talibãs acadêmicos”, “lixo acadêmico travestido de vanguarda intelectual”. Linguistas foram acusados de “trombadinhas acadêmicos”. Em todo o debate, o que vimos foi uma ignorância muito grande a respeito da ciência da linguagem. confusões de toda sorte foram feitas. A Linguística nunca negou a existência de uma norma culta, usada em todas as sociedades para produzir textos
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Linguística? Que é isso?
de algumas esferas de circulação, como a acadêmica, a jornalística, etc. No entanto, essa ciência comprovou que as línguas variam e mudam e que, portanto, cabe a ela explicar os enunciados produzidos em qualquer variedade e em qualquer época. Assim como um botânico não pode excluir, em suas descrições, por critérios estéticos, uma