linguagem

Não acordei. Fui, na verdade, acordado. Minha cabeça doía, e os olhos ardiam de tanto sono, chegava a sentir uma espécie de vazio por dentro, como se alma tivesse ficado em algum lugar no caminho até ali, saudades já nem sentia, talvez pela “ausência da alma”, talvez por acostumar-se com a ausência dos outros, talvez pela hora. Tinha ido dormir, por necessidade, pra lá de uma da manhã, olhei no relógio, eram 4 da manhã, já fazia quase uma semana que eu dormia menos de 3 horas por noite. E essa sequência já havia se repetido muitas vezes nos últimos anos. O corpo? O corpo durante o dia já parecia adormecido por si só, sem forças, sucumbido pela falta de condições de reagir ao que acontecia. Por vezes, muitas, parecia que não vivi, todos os dias eram iguais a ponto de ao final da semana eu não conseguir diferenciar o que aconteceu num e noutro, quase uma amnésia causada pela repetição e automatismo com que jogava meus dias, um por um, no lixo, tentando construir algo que, na verdade, nem existia, a vontade de fazer algo melhor já tinha sido tão reprimida, que minha torcida, agora, era pra que tudo acabasse logo. Olhei para o lado, e ao invés de compreender o que acontecia ou de entender que aquilo era necessário para algo, afinal isso é o que nos motiva a sacrificar algumas coisas por outras, percebia apenas uma pressa desenfreada nas pessoas. Situação tão desconfortável e insuportável, conforme os anos se passavam, que por vezes se tornava cômica, com alegrias raras, qualquer coisa que antes seria algo meramente necessário se torna motivo de alegria. Pessoas cheias de capacidade e vida ceifando alguns dos melhores anos de suas vidas por algo que sequer sabiam se valia a pena, estavam ali, junto comigo, lutando por ideais imaginários e por vezes apenas jogados a nós, sem ser sequer cumpridos por quem nos jogava, hipocrisia. Minha pouca experiência de vida me permite dizer que alienação é uma das piores coisas que pode acontecer às pessoas, porém quando ela lhe é