Linguagem e história
Segundo Orlandi (1990), a Análise do Discurso é uma disciplina que trata das questões que dizem respeito à relação da linguagem (objeto de estudo) com sua exterioridade (objeto histórico). A Análise do Discurso (AD) trabalha a relação entre a materialidade lingüística e a materialidade histórica e para melhor compreensão da referencia à história, é necessário retomarmos algumas características da lingüística contemporânea.
A partir de Saussure a lingüística torna-se uma ciência, pois faz a separação entre o que pertence e o que não pertence ao estudo da ciência da linguagem. Há assim, de um lado a língua – definida como um sistema de signos e descrita como homogênea, um fato social estável – e, de outro lado, a fala – concebida como individual, heterogênea e efêmera. Saussure, ao separar langue de parole, define a língua como algo estável e passível de análise (por isso se torna o objeto de estudo da ciência da linguagem) e deixa a fala para ser estudada mais tarde por outras ciências que um dia a explicariam. Com Chomsky, a ênfase no racionalismo assinala um campo de estudos centralizado na descrição da competência do falante, na sua capacidade inata não só de produzir, mas também de compreender todas as sentenças geradas na sua língua materna. Porem essa teoria supõe um falante/ouvinte ideal numa comunidade lingüística homogênea – retomando a hipótese de uma língua homogênea.
Podemos concluir, em uma ordem lógico-estrutural, que o objeto da lingüística é a língua, não a fala; é a competência, não o desempenho. Assim, as línguas humanas passam a ser descritas, analisadas e classificadas conforme modelos teóricos que descartam de suas análises as condições reais de produção do ato lingüístico, tanto no que se refere à relação com o momento histórico mais amplo, como na interação de seus interlocutores. Segundo Pêcheux, a língua é, enquanto sistema, analisada só sob o ângulo de seus mecanismos