Linguagem e exclusão social, surge uma macabéa
“Desde que me conheço o fato social teve em mim importância maior do que qualquer outro: em Recife os mocambos foram a primeira verdade para mim. (..) Na verdade sinto-me engajada. Tudo o que escrevo está ligado, pelo menos dentro de mim, à realidade em que vivemos.” (Clarice Lispector)
Somente uma pessoa comprometida em observar e denunciar os problemas sociais de um povo cria um personagem tão comentado e analisado por diversos seguimentos culturais do Brasil e do mundo. Vale lembrar que a autora era, injustamente, criticada por “não ter comprometimento, em seus livros, com o momento em que vivia o país”. Macabéa, personagem de A HORA DA ESTRELA, de Clarice Lispector, está inserida, sutilmente, num contexto social, não só de épocas passadas, mas atuais, para contribuir com outras vozes que “gritam” para que a comunicação no país seja melhor analisada. Cobra a parcela de culpa de cada um, Estado, mídia e família que abandonam aquilo ou aqueles por quem são responsáveis. A maior parte de nossa população fica à margem da sociedade “educada e bem sucedida”. Pessoas são impedidas de se constituírem enquanto sujeito, vítimas de uma exclusão social, produzindo outras vítimas. Processo nem sempre evidente pela sutileza de seus mecanismos.
Um desses processos, o preconceito linguístico, preocupa o escritor e linguista Marcos Bagno. Em seu livro Preconceito Linguístico - o que é, como se faz, afirma que o preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogadas nos dicionários. Chama atenção para a marginalização dos indivíduos que não dominam a norma culta, mas que também dominar não é garantia de ascensão