Caderno de Resumos da UERJ - 2013
Conferência 1
José Carlos de Azeredo (UERJ)
A língua materna e a formação do professor de Letras
A língua constitui o mais poderoso “aparato simbólico” à disposição do ser humano para as demandas e desafios da vida social. Mais do que um utensílio óbvio e trivial para o desempenho das tarefas comunicativas rotineiras, esse aparato é a essência mesma do ‘modo humano’ de existir, uma vez que fornece a matéria prima tanto para a expressão de um previsível e elementar “Parece que vai chover”, quanto para a elaboração de uma ata de reunião, de um ensaio filosófico, de um poema lírico. Para o senso comum, o vínculo direto com as circunstâncias confere ao comentário sobre o tempo e à ata de uma reunião o papel de testemunhos dos fatos. Desse modo, esses textos são pensados e construídos para funcionar como meio de acesso a um mundo que já existe como “coisa a ser dita”. O ensaio filosófico e o poema lírico, por sua vez, teriam outra natureza, visto que a “realidade” de que falam é necessariamente obra construída pela palavra. Nossa tarefa, como linguistas e como professores de língua, presentes e futuros, é promover a compreensão do papel comum da palavra na construção dos textos em geral, desvendando os mecanismos que os fazem parecer expressão direta da realidade dos fatos ou, propositalmente, os concebem como criações de novas realidades. Com efeito, a palavra é, em qualquer caso, uma forma de construir significado, seja quando está a serviço da comunicação de uma experiência do cotidiano moldada pela bitola do senso comum, seja quando sua função é criar novos caminhos na superfície da realidade imediata, mediante fissuras que abalem nossas certezas e nos projetem em outros universos de significação. Para apreender a palavra como forma de construir significado, é preciso ir além de sua utilidade como simples instrumento de comunicação e passar a tratá-la como objeto de observação, de reflexão e de análise.
Cabe ao