Linguagem da modernidade em literatura da lingua portuguesa ( poeta fernando pessoa)
Fernando Pessoa (1888 – 1935)
FERNANDO PESSOA
Tenho tanto sentimento (Poema)
Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual, porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
O Amor (crônica)
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.
Trecho do Conto “O Mendigo”
"-É artista?pintor?poeta?
-Não;sou simplesmente um atônito.
Ergui a cabeça e olhei-o sem responder.
-Para mim, continuou ele, o facto essencial e pasmoso das coisas é elas realmente serem.O facto de qualquer coisa ser é milagroso. O outro facto milagroso é estar eu aqui, a ter a consciência que elas são. Gozo este horror com todas as formas da minha alma. Conheço bem que nem as