Legalização das Drogas
Defensores e adversários da legalização das drogas esgrimem bons argumentos num debate que merece ser ampliado sem hipocrisias
A iniciativa de um grupo de neurocientistas brasileiros de pedir a legalização da maconha tem o mérito de provocar o debate sobre o tema do veto ou liberação das drogas, para o qual não parece haver solução perfeita.
A linha proibicionista, que tem sido a dominante no mundo desde o início do século passado, esgrime um argumento de peso em sua defesa: proibir impede que um número maior de pessoas se exponha a substâncias que provocam dependência, não raro com impactos bastante deletérios para o indivíduo e a sociedade.
Alguns números ilustram bem a situação. No Brasil, pesquisa realizada em 2005 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), órgão ligado à Unifesp, mostrou que 75% da população entre 12 e 65 anos já havia feito uso de álcool ao menos uma vez na vida, com a proporção dos que podem ser considerados alcoólatras chegando a 12,3%.
Em 2008, o Undoc, a agência da ONU encarregada do combate às drogas e ao crime, estimou que os usuários de todas as drogas ilícitas no mundo não passavam de 5% da população entre 15 e 64 anos, e a parcela dos que podem ser considerados dependentes fica abaixo de 0,6%.
É difícil crer que grande parte da brutal diferença entre as legiões de alcoólatras e o modesto pelotão de dependentes de drogas ilícitas não se deva ao fato de bebidas serem liberadas e outras substâncias, como cocaína, não.
Se os 5% de usuários de drogas ilícitas começarem a se aproximar dos 75% de consumidores de álcool, nossos serviços de saúde teriam de lidar com um número muito maior de problemas.
Já os defensores da legalização observam que drogas são consumidas desde os primórdios da humanidade e nada indica que a demanda e a oferta desaparecerão. Numa perspectiva liberal, não estaria no poder da lei e do Estado, na vã tentativa de eliminar essa realidade, ditar as substâncias