Laços de Família - Clarice Lispector além da leitura
O conto preciosidade, de Clarice Lispector, pertence à obra Laços de Família que foi publicada pela primeira vez em 1960. Em todos os treze contos do livro a autora critica, de formas distintas a instituição familiar. Sendo que em 8 dos contos o enfoque está sobre a posição da mulher no contexto familiar. Em preciosidade, a primeira crítica à essa instiuição pode ser notada já no quarto parágrafo do conto, quando a autora coloca: ''mentia para si mesma que não havia tempo de tomar banho, e a família adormecida jamais adivinhara quão poucos ela tomava." (LISPECTOR, 1960), Referindo-se à inconsciência e omissão de assistência por parte dos pais da personagem. Tal crítica pode ter seu sentido ampliado para questões além de um simples banho, como a passagem da infância para a adolescência da qual trata o conto e para além da família da personagem, sendo extendida para a sociedade de uma forma geral. O foco narrativo do conto segue no que podemos chamar, segundo Friedman, de Onisciência seletiva que consiste em narrar os aspectos psicológicos e sentimentais de uma única personagem da narrativa. De maneira geral, até a metade do conto, o que temos é uma descrição da, até então, rotina da personagem, os verbos são usados no pretérito imperfeito causando o efeito de que as ações realizadas se estendem até o tempo presente. Em meio aos verbos usados no pretérito imperfeito, o segundo parágrafo se inicia da seguinte forma: ''Tinha quinze anos e não era bonita." Colocando o verbo ser no pretérito perfeito, como ação plenamente concluída, o que pressupõe que no tempo presente a personagem já não é feia. Ainda nesse parágrafo, o narrador começa, claramente, a adentrar o universo psicológico da personagem descrevendo-a por dentro, transpondo os limites exteriores: ''dentro da magreza, a vastidão quase majestosa em que se movia como dentro de uma meditação. E dentro da nebulosidade algo precioso.