Lamento E Esperan A

LAMENTO E ESPERANÇA

Esse sol que escalda sem dar trégua numa teimosia sem fim... Criaturas em inanição desfalecendo aos poucos agregado à esse sertão que enfada; que mal cria, deixando apenas um fio de luz de esperança e uma viva resposta da enfadonha morte. Seridó que permeias décor o meu viver, sabes que sempre me dediquei de corpo e alma como se ele fosse o meu último gole d’água. Fico em dúvidas se ainda o quero, pois sinto que meus descendentes se desfalecem nesse agreste fétido. Meus pés de mandacaru já não têm forças nem mesmo contra a aragem da noite, caem secas ao simples resvalo da magricela res. Coitada da mimosa, por mais que se esforce não consegue nem mesmo mugir! Situação não tão diferente do que duas cabras velhas sedentas d’água que não se suportam mais em cima de seus quadrúpedes. O meu cachorro – que a mulher batizou ironicamente de nome campeiro – quem poderia dizer que um dia realmente ele correu pelos campos; agora estava ali arranhando, cavando e procurando incessantemente água na batata do umbuzeiro... Acho que foi por isso que perdeu os poucos caninos que ainda restavam em sua arcada, de longe visualiza em seu dorso os ossos cadavéricos rasgando a pele seca. Oh! Dó! Arrastava-se pelo chão tal qual uma víbora sinuosa no solo árido, de longe eu imaginava a quem restaria mais vida, ao campeiro ou a vil áspide que estava cada vez mais escassa naquela caatinga; iguaria desejada de Carcarás e que agora era disputada nos pratos de algumas famílias de desesperados. Pobre serpente que de caçadora virou a ser pitéu. Na madrugada seguinte, a coruja mortalha chorosa rasgou estridente à noite inúmeras vezes no esteio do barraco. O cachorro no terreiro uivou sem fim; os supersticiosos dizem que é sinal de mau agouro; ralhei com o campeiro algumas vezes, mas mal sabia eu que era um dos seus últimos uivos. O amigo amanheceu morto! Duro igual uma pedra! Pelo jeito estava com fome e comeu sapo-venenoso. Fui me apegar a um feiticeiro para desvendar do por