Lago

Num grande lago, avistei um vulto, o lago refletia uma avelã enorme e suculenta. Qualquer esquilo se deliciaria com tal imagem, mas eu, eu me preocupei com o vulto. No fundo de um lago, bem lá no fundo, avistei um vulto. Embaçada a imagem estava e não conseguia ver o que era, mas era sim um vulto. Mas vulto é algo tão amorfo e a curiosidade é um pecado tão tentador. Curioso que sou, aproximei-me do lago... a cor da avelã tentava me encantar, enquanto isso o lago brilhava, reluzia. Lago e avelã tentadoras, só pude amaldiçoá-las, mascarando tão curioso vulto! Aproximei-me, aproximei até sentir a ponta do nariz umedecer e olhei, avistei o Vulto, desta vez em cores-e-poucos-detalhes. Não posso afirmar, mas tive impressão que o Vulto tinha olhos e me olhava como quem está em desespero, aquele desespero que precede o fim. A cor-de-avelã do Lago passou então a me enojar. Não mais o amaldiçoava, mas pedia e implorava para que saísse da frente e deixasse o Vulto emergir. Sem resposta, percebi então que algo tão belo e tentador me causava dor e ainda fazia com que o que estava lá no fundo de si mesmo sofrer. Por vezes o Lago-avelã aquietava e a imagem um pouco mais nítida se tornava. Droga, só fazia minhas esperanças reaparecerem e as destruía, pois em pouco tempo tudo tremia e piorava e o Vulto de mim, de novo, escapava. Não, não seria assim, a cada esperança falsa que o Lago me dava, mais o olhar do vulto se desesperava, não seria assim. Nada mais me importava, a dor da espera e da decepção já tinham se alimentado e crescido fortes nele. Mergulhei, senti meu corpo enrijecer tamanho o frio. Minhas juntas estalaram e meus músculos contraiam-se violentamente, buscando aquecer-se e ao mesmo tempo me empurrar para o fundo. O pobre Vulto estava lá no fundo, ainda meio embaçado, esmagado pela enormidade do Lago. Para maus observadores, o Vulto e o Lago eram a mesma coisa...tolos! A beleza do Vulto era única e sua aparência era límpida e translúcida, diferente do