Koltes 17 06 Analise

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA / UDESC
ANÁLISE DO TEXTO DRAMÁTICO - PROF. STEPHAN BAUMGARTEL
ACADÊMICA PAULA MURATT DONATO

KOLTÉS, B.M. - Teatro de Bernard Marie Koltés: Na Solidão dos Campos de Algodão. São Paulo: Editora Hucitec, 1995.

"Eu nunca coloquei ideias políticas nas minhas peças. A gente não escreve peças com ideias, a gente escreve peças com pessoas. Eu, se quiser, eu escrevo um panfleto político. Mas eu não faço panfletos políticos nas minhas peças. Eu não tenho nenhuma razão pra escrever uma peça, a não ser o fato de escrever, é o único." KOLTÉS, B.M., 1988

A peça Na Solidão dos Campos de Algodão é um autêntico trabalho do escritor francês B. M. Koltés cuja obra fora muito bem recomendada pelo apresentador Fernando Peixoto nesta edição, e que de cara instiga o interesse do leitor devido ao seu diálogo peculiar, estruturado numa poética tão retórica e filosófica quanto de uma precisão inusitada. O autor busca expor à luz uma parte escondida das cidades, uma parte onde o silêncio e a convenção social, talvez a própria ausência da luz quente e solar seja responsável por "regurgitar" das sombras os animais peçonhentos, os roedores, os caçadores, e todos os notívagos, incluindo o bicho homem a procura de transações proibidas pela lei do dia, onde há olhos tão onipresentes quanto a luz do sol. Nos becos e nas esquinas escuras a lei é a do mais forte, porém, o caos é quem impera sobre as probabilidades e não se pode querer prever os acontecimentos mesmo que em horas tão inócuas. Tendo em mente essa realidade, o autor procura explorar a possível relação entre dois homens que não se conhecem, mas que se deduzem mutuamente diante da própria situação no espaço/tempo em que se encontram, no caso uma rua à noite. Só essa localização onde a violência está implícita cria uma ambientação sinistra e pré- determina que as relações entre estranhos estará comprometida por uma esfera de desconfiança. Quanto aos personagens, não são bem