kendo no brasil

Identidades E Diferenças, Práticas E Moralidades Transnacionais: Reflexões Sobre A
Esgrima Japonesa No Brasil
Gil Vicente Lourenção (UFScar)
Identidade Nipo-brasileira; Transnacionalismo; Fluxos Migratórios.
ST 18: Interseccionalidades e produção de diferenças e desigualdades.
Considerações sobre o Kendo
Posso dizer que comecei a conhecer o kendo [ken=espada; do=caminho] no ano de 2006, em uma visita que fiz a uma cidade de Santa Catarina, chamada Curitibanos. Esta cidade fica no alto de uma serra escarpada, lugar frio e desolado, onde existe uma colônia japonesa e na qual fui convidado mediante o meu interesse e o meu status dentro da hierarquia dos praticantes de esgrima.
O conceito básico nesse caso é a hierarquia, e o foco inicial é a formulação efetuada por Dumont sobre o tema [DUMONT: 1992]. O autor entende e argumenta que a igualdade e a hierarquia são ideologias, que por sua vez se tratam de um conjunto de idéias e valores. Situa-se em um nível consciente, embora sejam de ordem lingüística. No caso da hierarquia no kendo, não se trata simplesmente de ordens superpostas, como Dumont afirma, mas existe um sistema de graduação em que as pessoas adquirem conhecimentos e sobem nessa hierarquia mediante a passagem por exames de graduação. Nos níveis mais altos, as pessoas sobem de acordo com o trabalho em torno da popularização do kendo e mediante evidentemente sua aprovação nos exames. A hierarquia no kendo não deixa de ter pontos de atrito e pontos de distorções, pois se trata de um sistema que encontra sua devida significação em relação ao plano simbólico japonês e, não raro, choca-se com um sistema calcado em um plano mental que encontra no indivíduo sua gênese e sentido.
Bem antes do evento de Curitibanos, fiz o primeiro contato com o kendo na cidade de São
Carlos, interior do estado de SP, no inicio do ano de 2004. Durante este ano, fui me acostumando a uma série de planos disciplinares japoneses1 que incluem um controle preciso dos movimentos
corporais,