Kel25021998

1585 palavras 7 páginas
Prefácio
Fábio Konder Comparato

A análise dos costumes sociais foi objeto de um gênero literário, que teve seu ponto alto no século XVII. Manifestava-se sob a forma de comédias, fábulas ou apólogos, ou então de contos ou ensaios curtos, em que o autor dava, livremente, a sua visão pessoal sobre os fatos da vida cotidiana. Os cultores do gênero eram chamados moralistas (do latim mos, moris: costume). Portugal teve, nessa época, o padre Manuel Bernardes, que tanto inspirou, como se sabe, o nosso Machado de Assis, sobretudo nos contos. Mas a nação que mais brilhou nesse gênero literário foi, indiscutivelmente, a França, com La Bruyère, La Fontaine e Molière. Emile Auguste Chartier (l868–1951), sob o pseudônimo de Alain, retomou esse mesmo estilo três séculos depois, tornando-se o mestre incontestável de pelo menos duas gerações. Ele era professor de filosofia, escrevia regularmente em jornais e defendia com ardor a educação para a cidadania, considerando a escola pública como a instituição central da vida republicana. Jaime Pinsky aproxima-se, sob muitos aspectos, de Alain. Tal como ele, considera-se antes de tudo um professor, que não limita seu magistério às salas de aula, mas sabe levá-lo também ao público através dos jornais. Tal como Alain, é um observador crítico dos costumes sociais e acredita na educação ética como meio de reformá-los. Escusa dizer que, a persistir nessa via, ele
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corre o risco de tornar-se uma avis rara, cada vez mais exótica em tempos de privatizações lucrativas e globalizações eficientes. O título desta coletânea de ensaios resume as duas idéias centrais, comuns a todos eles. Se as nossas assim chamadas elites nunca tiveram a menor noção do que seja cidadania, nem por isso encontramo-nos diante de um caso desesperado: o remédio é obviamente a educação, encarada como tarefa maior de toda a sociedade. Tomando este livro como deve ser considerado, isto é, segundo nos ensinou Sócrates, como uma série de interrogações ao leitor, para

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